10 janeiro, 2012

Choque de gerações

Como dizia o senhor Z, «Antes cavalo que burro!». Era assim que relativizava os seus problemas de raciocínio - comparando-se com um burro de carga sempre dava para aumentar a auto-estima. Tendo-se em alta conta, formulava teorias sobre andar de barco e andar metro, sendo a primeira opção a sua favorita, é que se só tivesse um sítio onde desembarcar, seria bastante fácil de chegar ao seu destino, para além disso podia-se deixar conduzir pelo resto da multidão que seguia pelos mesmos caminhos, não havia que enganar.
No início ainda perguntava, «este vai para a capital?", ao que as pessoas respondiam confusas que sim, já que só havia um percurso de A até B. O pior era uma vez lá, desenvencilhar-se e mover-se sozinho. De preferência incorporava a resistência do cavalo e seguia a pé até ao centro de emprego ou ao supermercado das melhores promoções, mais porque gostava de pisar e conhecer os sítios por onde passava. Porém, era frequente perder-se, e pedir por indicações não era o seu forte, principalmente porque tinha dificuldades em pronunciar Lidl (o de fazia-lhe comichão no palato, por estar entre um li e um le), mas também porque centros de emprego haviam muitos e a ele só servia um específico ao pé de umas macieiras, que é onde uma prima afastada trabalha e o pode atender com maior celeridade.
Resignava-se e acabava por apanhar o metro. «Lá tem de ser», pensava. O treino da tropa toldara-lhe o carácter, por isso nunca dizia que não a uma dificuldade que lhe aparecesse pela frente. Apanhara o jeito de andar de escadas rolantes, mas ainda mais importante era estar atento à voz feminina do metro. «Próxima estação, Filolidazentrempão», era como lhe soava se quisesse seguir para as compras, embora na maioria das vezes até acertasse. A outra era «Próxima estação, Bizomptuqueiras". Auto-censurava-se permanentemente por ter uma caligrafia tão bonita e nunca apontar o nome dos sítios num papel.

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